
29.09.2025
Bruno Carneiro: Das Raízes no Porto às "Cores" da Orquestra no Algarve
Entrevista por Rui Baeta, 26 de setembro de 2025
Bruno Carneiro, contrabaixista de 33 anos nascido no Porto, é uma figura proeminente na música clássica portuguesa. Com formação no Royal College of Music em Londres e uma carreira que inclui atuações a solo e em orquestra, como na Orquestra do Norte entre 2012 e 2015 entre outras notáveis orquestras nacionais e estrangeiras, é, desde 2022, por admissão em concurso internacional, chefe de naipe adjunto de contrabaixo na Orquestra do Algarve e desde 2024 professor de contrabaixo no Conservatório de Música de Loulé - Francisco Rosado.
A propósito da sua participação como solista no concerto "As Cores da Orquestra", agendado para 5 de outubro de 2025 às 18h em Tavira, com a Orquestra do Algarve, conversei com o Bruno sobre o percurso artístico deste brilhante músico, que aqui partilho convosco.
Caro Bruno, muito obrigado por nos dar esta oportunidade de ficarmos a conhecê-lo um pouco melhor.
Começo por lhe perguntar o que todos gostamos sempre de saber: Que idade tinha e quem era o jovem Bruno quando começou a sua aventura na música?
Eu é que agradeço a oportunidade, com o maior gosto.
Comecei com piano aos 5 anos, mas foi só aos 10 que descobri o contrabaixo. Tive a sorte de encontrar no meu primeiro professor, Joel Azevedo, uma grande inspiração. Ele transmitiu-me logo a paixão pelo instrumento e mostrou-me que o contrabaixo podia ter uma voz muito para além do simples papel de acompanhamento.
E o que o levou a escolher o contrabaixo como instrumento principal?
Na altura, o contrabaixo não existia na escola e abriu como instrumento novo. Eu tinha também a vontade de tocar um instrumento de orquestra, de fazer parte desse universo coletivo e sonoro. O facto de ser algo inédito na escola despertou ainda mais a curiosidade. Experimentei e fiquei cativado pela sua sonoridade e imponência.
Já crescido, foi estudar no Royal College of Music em Londres, que deve ter sido muito marcante. Quais foram os maiores desafios e aprendizagens desse período, especialmente nas colaborações com orquestras como a Britten Pears Orchestra?
Foi uma etapa decisiva. Londres é uma cidade muito exigente e cheia de oportunidades, e estudar no Royal College of Music obrigou-me a crescer rapidamente como músico e como pessoa. Um dos momentos mais marcantes foi logo o meu primeiro projeto com a Britten Pears Orchestra, quando tinha apenas 17 anos: a ópera The Turn of the Screw, de Britten — extremamente difícil e desafiante. Esse desafio inicial obrigou-me a elevar o meu nível técnico e artístico, e fez-me perceber a responsabilidade e a exigência do trabalho em contexto profissional. Mas também guardo com enorme carinho o concerto da 9.ª Sinfonia de Beethoven, uma experiência muito especial, daquelas que ficam para sempre na memória de um músico. Esse período deu-me disciplina, resistência e contacto com músicos e maestros de enorme qualidade, que continuam a influenciar a minha forma de estar na música.
Como solista, que o foi em várias ocasiões, como no Gran Duo Concertante de Bottesini com a Orquestra do Norte, como prepara uma obra para uma atuação a solo? E qual é a sua peça favorita para contrabaixo?
Preparar uma atuação a solo exige mergulhar totalmente na obra: técnica, resistência, clareza de ideias e também uma forte preparação mental. O Bottesini é uma referência incontornável para qualquer contrabaixista, e tive a sorte de aprofundar esse repertório com o meu professor Thomas Martin, que é uma figura central na tradição do contrabaixo. Hoje em dia, tenho também grande interesse em repertório contemporâneo, como Angel of Dusk, de Rautavaara, que adorava explorar mais a fundo.
Trabalhou com maestros de renome, como Vladimir Jurowski e Sir Roger Norrington. De que forma essas experiências moldaram a sua abordagem à música orquestral?
Com o Jurowski aprendi muito sobre equilíbrio e sonoridade global da orquestra. Já com Norrington, no Requiem de Brahms (se a memória não me falha), tocámos tudo sem vibrato. Foi uma experiência fascinante: perceber a pureza do som sem depender do vibrato constante abriu-me novas perspetivas sobre a interpretação.
No concerto “As Cores da Orquestra” com a Orquestra do Algarve, como vê a parte do contrabaixo e como o repertório destaca as “cores” da orquestra?
O contrabaixo dá o alicerce, mas também acrescenta cor e densidade. Neste tipo de programa é muito interessante perceber como a nossa sonoridade se mistura com as outras famílias da orquestra.
Há alguma parte do repertório que o entusiasme particularmente?
Sim. Gosto muito de tocar os grandes mestres do repertório orquestral, como Beethoven, Mahler ou Stravinsky, porque nos desafiam e inspiram de formas diferentes. Mas entusiasma-me também o repertório solo de contrabaixo, que tem vindo a ganhar cada vez mais espaço, especialmente com o trabalho de compositores como Bottesini e, mais recentemente, Rautavaara ou Tubin.
Como músico profissional e professor em várias academias, qual é a sua visão sobre o panorama da música clássica em Portugal, especialmente no Algarve? Eventos como este atraem novos públicos?
O Algarve tem crescido muito em termos musicais. A Orquestra do Algarve tem um papel fundamental nesse processo, não só nos grandes concertos, mas também em iniciativas pedagógicas. Estes projetos aproximam a música de novos públicos e muitas vezes são o primeiro contacto de jovens e famílias com a música clássica.
O contrabaixo é um instrumento fisicamente exigente! Quais são os maiores desafios técnicos ou artísticos que enfrenta, e como os supera?
Além do peso e da dimensão, o grande desafio é a clareza do som. Sendo um instrumento tão grave, a articulação pode ser difícil de projetar. Exige disciplina diária, técnica bem consolidada e também preparação física.
Quais contrabaixistas ou compositores o inspiram no seu trabalho?
Thomas Martin foi uma referência central na minha formação e na ligação ao repertório de Bottesini. Inspiro-me também em contrabaixistas como Harold Robinson e Petru Iuga, que admiro imenso. Em termos de compositores, fascinam-me tanto os clássicos como os contemporâneos — de Bottesini a Tubin, de Mahler a Rautavaara.
Há alguma obra contemporânea que gostaria de explorar mais?
Sim, adorava trabalhar mais a fundo o Angel of Dusk de Rautavaara. É uma obra que mostra o contrabaixo de forma diferente, poética e ousada.
Quais são os seus planos futuros após este concerto a solo com a Orquestra do Algarve? Há novos concertos, gravações ou colaborações no horizonte?
Depois deste concerto, volto à minha posição na orquestra e ao trabalho de professor. Continuarei a desenvolver projetos ligados à música contemporânea e à pedagogia, que são áreas que me motivam muito.
O concerto “As Cores da Orquestra” sugere que é “feito de descobertas”. Na sua opinião, como inspirar o público a apreciar a música clássica de uma nova forma?
A chave está em aproximar a música das pessoas: explicar, contextualizar, mostrar que não é um mundo distante. A música clássica lida com emoções universais — e quando o público percebe isso, a experiência torna-se muito mais próxima e intensa.
Enquanto contrabaixista, como descreveria o papel do contrabaixo numa orquestra? É um instrumento subvalorizado?
O contrabaixo é muitas vezes pouco visível, mas é absolutamente essencial. É como os alicerces de uma casa: se faltarem, sente-se logo a ausência. O nosso papel é dar corpo, impulso e sustentação à orquestra.
Já participou em projetos que misturam música clássica com outros géneros? Gostaria de explorar mais essas fusões?
Sim, por exemplo em Londres toquei num projeto do Nonclassical, com o DJ e compositor Gabriel Prokofiev, num concerto dentro de uma discoteca. Foi uma experiência única, porque mostrou como a música clássica pode dialogar com outros universos. Gostava de explorar mais esse tipo de fusões.
De que forma considera relevantes os projetos internacionais no desenvolvimento de um intérprete e da sua carreira?
São essenciais. Viajar, tocar em contextos diferentes e colaborar com músicos de várias culturas abre horizontes e dá-nos ferramentas que dificilmente teríamos apenas no nosso país.
A Orquestra do Algarve tem uma longa tradição no sul de Portugal. Como vê o impacto desta orquestra na região?
A Orquestra é um verdadeiro pilar cultural. Tem levado música a lugares onde muitas vezes não há oferta cultural e tem ajudado a criar uma identidade musical própria no Algarve.
Já tocou obras como “Ryoanji” de John Cage. Como o contrabaixo se adapta a peças contemporâneas ou experimentais, e o que o atrai nesse repertório?
Atrai-me a liberdade e a exploração sonora. O contrabaixo adapta-se muito bem a este tipo de linguagem, porque tem uma paleta tímbrica enorme. Descobrir novas possibilidades sonoras é sempre inspirador.
Como se prepara para um concerto como este, trabalhando sob a direção do maestro Bruno Borralhinho, que também é um violoncelista de renome?
Ainda não tive oportunidade de trabalhar com ele como solista, apenas como membro da orquestra. Mas é um maestro incrível: atento ao detalhe, conhecedor da realidade dos músicos e com uma grande sensibilidade para as cordas, por ser também violoncelista.
Diria que experiência que o maestro tem como instrumentista influencia a sua própria direção musical?
Sim, sem dúvida. Ele conhece a realidade dos músicos e tem uma escuta muito atenta. Essa experiência como instrumentista faz com que o trabalho seja muito próximo e eficaz.
Se pudesse escolher um compositor ou uma obra para interpretar num concerto de sonho, qual seria e porquê?
Gostava muito de estrear uma obra escrita de propósito para contrabaixo por um compositor português. Seria uma forma de deixar uma marca no repertório nacional e de contribuir para o futuro do instrumento.
Que diria aos alunos de contrabaixo ou como seduzir novos alunos para este instrumento?
Diria que o contrabaixo é gigante, sim, mas também é um mundo de possibilidades. É um instrumento que surpreende sempre, tanto quem toca como quem ouve. Quem começa descobre que pode ser discreto e ao mesmo tempo protagonista — e isso é uma magia única.
Obrigado, Bruno, e muito sucesso para o concerto!
Obrigado, Rui, pela entrevista! É uma grande satisfação partilhar a música, não só como membro da Orquestra mas, também agora como solista, ao lado dos meus colegas, e para o nosso público.
Saiba mais sobre o concerto aqui.
29.09.2025
Bruno Carneiro: Das Raízes no Porto às "Cores" da Orquestra no Algarve
Entrevista por Rui Baeta, 26 de setembro de 2025
Bruno Carneiro, contrabaixista de 33 anos nascido no Porto, é uma figura proeminente na música clássica portuguesa. Com formação no Royal College of Music em Londres e uma carreira que inclui atuações a solo e em orquestra, como na Orquestra do Norte entre 2012 e 2015 entre outras notáveis orquestras nacionais e estrangeiras, é, desde 2022, por admissão em concurso internacional, chefe de naipe adjunto de contrabaixo na Orquestra do Algarve e desde 2024 professor de contrabaixo no Conservatório de Música de Loulé - Francisco Rosado.
A propósito da sua participação como solista no concerto "As Cores da Orquestra", agendado para 5 de outubro de 2025 às 18h em Tavira, com a Orquestra do Algarve, conversei com o Bruno sobre o percurso artístico deste brilhante músico, que aqui partilho convosco.
Caro Bruno, muito obrigado por nos dar esta oportunidade de ficarmos a conhecê-lo um pouco melhor.
Começo por lhe perguntar o que todos gostamos sempre de saber: Que idade tinha e quem era o jovem Bruno quando começou a sua aventura na música?
Eu é que agradeço a oportunidade, com o maior gosto.
Comecei com piano aos 5 anos, mas foi só aos 10 que descobri o contrabaixo. Tive a sorte de encontrar no meu primeiro professor, Joel Azevedo, uma grande inspiração. Ele transmitiu-me logo a paixão pelo instrumento e mostrou-me que o contrabaixo podia ter uma voz muito para além do simples papel de acompanhamento.
E o que o levou a escolher o contrabaixo como instrumento principal?
Na altura, o contrabaixo não existia na escola e abriu como instrumento novo. Eu tinha também a vontade de tocar um instrumento de orquestra, de fazer parte desse universo coletivo e sonoro. O facto de ser algo inédito na escola despertou ainda mais a curiosidade. Experimentei e fiquei cativado pela sua sonoridade e imponência.
Já crescido, foi estudar no Royal College of Music em Londres, que deve ter sido muito marcante. Quais foram os maiores desafios e aprendizagens desse período, especialmente nas colaborações com orquestras como a Britten Pears Orchestra?
Foi uma etapa decisiva. Londres é uma cidade muito exigente e cheia de oportunidades, e estudar no Royal College of Music obrigou-me a crescer rapidamente como músico e como pessoa. Um dos momentos mais marcantes foi logo o meu primeiro projeto com a Britten Pears Orchestra, quando tinha apenas 17 anos: a ópera The Turn of the Screw, de Britten — extremamente difícil e desafiante. Esse desafio inicial obrigou-me a elevar o meu nível técnico e artístico, e fez-me perceber a responsabilidade e a exigência do trabalho em contexto profissional. Mas também guardo com enorme carinho o concerto da 9.ª Sinfonia de Beethoven, uma experiência muito especial, daquelas que ficam para sempre na memória de um músico. Esse período deu-me disciplina, resistência e contacto com músicos e maestros de enorme qualidade, que continuam a influenciar a minha forma de estar na música.
Como solista, que o foi em várias ocasiões, como no Gran Duo Concertante de Bottesini com a Orquestra do Norte, como prepara uma obra para uma atuação a solo? E qual é a sua peça favorita para contrabaixo?
Preparar uma atuação a solo exige mergulhar totalmente na obra: técnica, resistência, clareza de ideias e também uma forte preparação mental. O Bottesini é uma referência incontornável para qualquer contrabaixista, e tive a sorte de aprofundar esse repertório com o meu professor Thomas Martin, que é uma figura central na tradição do contrabaixo. Hoje em dia, tenho também grande interesse em repertório contemporâneo, como Angel of Dusk, de Rautavaara, que adorava explorar mais a fundo.
Trabalhou com maestros de renome, como Vladimir Jurowski e Sir Roger Norrington. De que forma essas experiências moldaram a sua abordagem à música orquestral?
Com o Jurowski aprendi muito sobre equilíbrio e sonoridade global da orquestra. Já com Norrington, no Requiem de Brahms (se a memória não me falha), tocámos tudo sem vibrato. Foi uma experiência fascinante: perceber a pureza do som sem depender do vibrato constante abriu-me novas perspetivas sobre a interpretação.
No concerto “As Cores da Orquestra” com a Orquestra do Algarve, como vê a parte do contrabaixo e como o repertório destaca as “cores” da orquestra?
O contrabaixo dá o alicerce, mas também acrescenta cor e densidade. Neste tipo de programa é muito interessante perceber como a nossa sonoridade se mistura com as outras famílias da orquestra.
Há alguma parte do repertório que o entusiasme particularmente?
Sim. Gosto muito de tocar os grandes mestres do repertório orquestral, como Beethoven, Mahler ou Stravinsky, porque nos desafiam e inspiram de formas diferentes. Mas entusiasma-me também o repertório solo de contrabaixo, que tem vindo a ganhar cada vez mais espaço, especialmente com o trabalho de compositores como Bottesini e, mais recentemente, Rautavaara ou Tubin.
Como músico profissional e professor em várias academias, qual é a sua visão sobre o panorama da música clássica em Portugal, especialmente no Algarve? Eventos como este atraem novos públicos?
O Algarve tem crescido muito em termos musicais. A Orquestra do Algarve tem um papel fundamental nesse processo, não só nos grandes concertos, mas também em iniciativas pedagógicas. Estes projetos aproximam a música de novos públicos e muitas vezes são o primeiro contacto de jovens e famílias com a música clássica.
O contrabaixo é um instrumento fisicamente exigente! Quais são os maiores desafios técnicos ou artísticos que enfrenta, e como os supera?
Além do peso e da dimensão, o grande desafio é a clareza do som. Sendo um instrumento tão grave, a articulação pode ser difícil de projetar. Exige disciplina diária, técnica bem consolidada e também preparação física.
Quais contrabaixistas ou compositores o inspiram no seu trabalho?
Thomas Martin foi uma referência central na minha formação e na ligação ao repertório de Bottesini. Inspiro-me também em contrabaixistas como Harold Robinson e Petru Iuga, que admiro imenso. Em termos de compositores, fascinam-me tanto os clássicos como os contemporâneos — de Bottesini a Tubin, de Mahler a Rautavaara.
Há alguma obra contemporânea que gostaria de explorar mais?
Sim, adorava trabalhar mais a fundo o Angel of Dusk de Rautavaara. É uma obra que mostra o contrabaixo de forma diferente, poética e ousada.
Quais são os seus planos futuros após este concerto a solo com a Orquestra do Algarve? Há novos concertos, gravações ou colaborações no horizonte?
Depois deste concerto, volto à minha posição na orquestra e ao trabalho de professor. Continuarei a desenvolver projetos ligados à música contemporânea e à pedagogia, que são áreas que me motivam muito.
O concerto “As Cores da Orquestra” sugere que é “feito de descobertas”. Na sua opinião, como inspirar o público a apreciar a música clássica de uma nova forma?
A chave está em aproximar a música das pessoas: explicar, contextualizar, mostrar que não é um mundo distante. A música clássica lida com emoções universais — e quando o público percebe isso, a experiência torna-se muito mais próxima e intensa.
Enquanto contrabaixista, como descreveria o papel do contrabaixo numa orquestra? É um instrumento subvalorizado?
O contrabaixo é muitas vezes pouco visível, mas é absolutamente essencial. É como os alicerces de uma casa: se faltarem, sente-se logo a ausência. O nosso papel é dar corpo, impulso e sustentação à orquestra.
Já participou em projetos que misturam música clássica com outros géneros? Gostaria de explorar mais essas fusões?
Sim, por exemplo em Londres toquei num projeto do Nonclassical, com o DJ e compositor Gabriel Prokofiev, num concerto dentro de uma discoteca. Foi uma experiência única, porque mostrou como a música clássica pode dialogar com outros universos. Gostava de explorar mais esse tipo de fusões.
De que forma considera relevantes os projetos internacionais no desenvolvimento de um intérprete e da sua carreira?
São essenciais. Viajar, tocar em contextos diferentes e colaborar com músicos de várias culturas abre horizontes e dá-nos ferramentas que dificilmente teríamos apenas no nosso país.
A Orquestra do Algarve tem uma longa tradição no sul de Portugal. Como vê o impacto desta orquestra na região?
A Orquestra é um verdadeiro pilar cultural. Tem levado música a lugares onde muitas vezes não há oferta cultural e tem ajudado a criar uma identidade musical própria no Algarve.
Já tocou obras como “Ryoanji” de John Cage. Como o contrabaixo se adapta a peças contemporâneas ou experimentais, e o que o atrai nesse repertório?
Atrai-me a liberdade e a exploração sonora. O contrabaixo adapta-se muito bem a este tipo de linguagem, porque tem uma paleta tímbrica enorme. Descobrir novas possibilidades sonoras é sempre inspirador.
Como se prepara para um concerto como este, trabalhando sob a direção do maestro Bruno Borralhinho, que também é um violoncelista de renome?
Ainda não tive oportunidade de trabalhar com ele como solista, apenas como membro da orquestra. Mas é um maestro incrível: atento ao detalhe, conhecedor da realidade dos músicos e com uma grande sensibilidade para as cordas, por ser também violoncelista.
Diria que experiência que o maestro tem como instrumentista influencia a sua própria direção musical?
Sim, sem dúvida. Ele conhece a realidade dos músicos e tem uma escuta muito atenta. Essa experiência como instrumentista faz com que o trabalho seja muito próximo e eficaz.
Se pudesse escolher um compositor ou uma obra para interpretar num concerto de sonho, qual seria e porquê?
Gostava muito de estrear uma obra escrita de propósito para contrabaixo por um compositor português. Seria uma forma de deixar uma marca no repertório nacional e de contribuir para o futuro do instrumento.
Que diria aos alunos de contrabaixo ou como seduzir novos alunos para este instrumento?
Diria que o contrabaixo é gigante, sim, mas também é um mundo de possibilidades. É um instrumento que surpreende sempre, tanto quem toca como quem ouve. Quem começa descobre que pode ser discreto e ao mesmo tempo protagonista — e isso é uma magia única.
Obrigado, Bruno, e muito sucesso para o concerto!
Obrigado, Rui, pela entrevista! É uma grande satisfação partilhar a música, não só como membro da Orquestra mas, também agora como solista, ao lado dos meus colegas, e para o nosso público.
Saiba mais sobre o concerto aqui.
